Faça aqui uma busca do que você quer

Mostrando postagens com marcador sermão da montanha. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sermão da montanha. Mostrar todas as postagens

sábado, 2 de março de 2013

Estudos no Sermão do Monte / parte 17 - A Mortificação do Pecado


A MORTIFICAÇÃO DO PECADO

 

Baseado em “A Mortificação do Pecado”

Capítulo XXII de “Estudos no Sermão do Monte”

Martyn Lloyd-Jones – Editora Fiel

 

“Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.” (Mateus 5:29-30 RC)

 

01. Que palavras fortes, não?

02. Elas deveriam nos levar a pensar com mais seriedade sobre a gravidade do pecado.

03. O quão a sério eu (nós) tenho (temos) levado o pecado?

04. O pecado é algo de gravidade extrema e eu (nós) não deveria (deveríamos) brincar com ele.

05. Deixando de lado qualquer outra razão para Jesus assim se pronunciar, devemos entender que Jesus estava ensinando, ao mesmo tempo:

a.    A real e horrenda natureza do pecado;

b.    O terrível perigo no qual o pecado nos envolve e

c.    A importância de tratarmos o pecado de forma radical, desvencilhando-nos dele de forma definitiva.

06. Por mais valioso que seja algo para uma pessoa, se esse algo lhe chegar a servir de armadilha, levando essa pessoa a tropeçar, então essa pessoa deve desfazer-se desse algo.

07. Obviamente não vamos arrancar um olho ou qualquer outra parte de nosso corpo literalmente; mas há coisas das quais podemos e devemos literalmente nos desfazer.

08. Nunca deveríamos relaxar e tratar com pouca seriedade o problema de nosso pecado pessoal. Por isso há algumas coisas que faremos bem em observar e entender:

 

I. Devemos perceber tanto a natureza do pecado quanto as suas consequências.

 

01. É muito fácil desenvolvermos uma visão míope acerca da gravidade do pecado, tornando-o infinitamente menos grave do que ele realmente é.

02. Essa visão míope da gravidade do pecado é um dos fatores, talvez o principal, que nos tem impedido de viver uma vida mais santificada.

03. Precisamos, então, de “óculos espirituais”. E esses óculos nos ajudarão a enxergar pelo menos três fatos que dizem respeito à natureza e consequências do pecado:

a.    Primeiro fato: O pecado não se resume a “atos pecaminosos”. Em outras palavras, “não somos pecadores porque cometemos atos pecaminosos, e sim, cometemos atos pecaminosos porque somos pecadores”. E isso quer dizer que você pode não estar cometendo nenhum ato pecaminoso no momento, e isso já ser assim com você há algum tempo (se é que isso é possível), mas ainda assim você continua sendo um pecador.

b.    Segundo fato: Pecado é pecado independente do “tamanho”, independente de ser “grave” ou “leve”. Em certo sentido, talvez diante dos homens e em relação aos homens, há pecados “mais graves” e “menos graves”. Quem pode negar, por exemplo, citando algo dito por Jesus, que diante dos homens um ato consumado de adultério seja menos grave que o adultério enclausurado nas profundezas da mente humana? Entretanto, diante de Deus, Jesus nos dá assim a entender, ambos são gravíssimos. Isso é algo deveras importante e de que às vezes temos nos esquecido. Pecado é pecado e sempre será exclusivamente pecado. Por nos esquecermos disso temos nos tornados grandes praticantes de pecados. Por tratarmos com menor importância alguns atos pecaminosos, como uma “mentirinha branca”, por exemplo, temos nos tornado pecadores praticantes sem percepção de que por esses pecados precisamos nos ajoelhar diante de Deus com arrependimento e súplica por perdão. E por assim agirmos e assim estarmos nos tornando, tem havido no seio da igreja uma carência de servos de Deus santificados. Você sabe o que significa ser santificado?...

c.    Terceiro fato: As consequências do pecado foram e são desastrosas.

                                  i.    Consequências do pecado para o pecador não regenerado: Perdição eterna. Veja alguns textos que descrevem essa perdição:

1.    O próprio texto que lemos fala de “fogo eterno”.

2.    Em Marcos 9 o lugar de perdição é retratado como um lugar onde “o seu bicho não morre e o fogo nunca se apaga”.

3.    Em Apocalipse o lugar é retratado como sendo um lago que arde com fogo e enxofre.

4.    Mateus 25 fala do local como sendo um lugar onde há tormento eterno.

                                ii.    Consequência para o nosso Redentor: Foi o nosso pecado, o meu e o seu, que levou Jesus à Cruz – Veja Isaías 53. Foi o pecado em mim e você que levou o Eterno Filho de Deus a suar gotas de sangue no Getsêmani; foi o pecado em mim e você que levou Jesus a suportar toda a agonia e todo o sofrimento a que ele foi sujeito, sofrimento esse que ultrapassou em muito a barreira do sofrimento físico – por que será que, na cruz, Jesus ora ao Pai dizendo: “Eloí, Eloí, lama sabactani: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”? Voce e eu possuímos uma natureza tão maligna que tudo isso se fez necessário. Isso é o pecado! Tão grave assim é a poluição do pecado que existe em nós.

04. Não devemos ser ignorantes quanto à gravidade do pecado!

05. Devemos procurar detestar, odiar o pecado com toda a força do nosso ser. Ao pecador devemos amar como Cristo nos amou, mas ao pecado temos que detestar, especialmente ao nosso pecado pessoal. Precisamos chorar, lamentar por causa do pecado – Bem aventurados os que choram – e precisamos ter fome e sede de Justiça conforme já ficou bem entendido sobre o que vem a ser essa justiça.

06. “... se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.”

 

II. A importância da alma e de seu destino eterno.

 

“... corta e atira para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.” (Mateus 5:30 RC)

 

01.  Quantas vezes Jesus disse isso? – Duas – Duas vezes a fim de dar mais ênfase ao que ele estava querendo ensinar.

02. Obviamente, sabemos, essa palavra de Jesus visa não que decepemos literalmente parte de nosso corpo, e sim ensinar não só a gravidade do pecado como também a importância de nossa alma e seu destino eterno.

03. Dentre as obras que restaram e estão por aí, da Biblioteca Alice Reno (Biblioteca da Igreja Batista em Muqui), há um livrinho escrito por William Carey Taylor intitulado “Os Mandamentos de Jesus”. Nesse livrinho o autor faz uma classificação de tudo aquilo que ele considerou como sendo “ordenado” por Jesus. Essa “ordem” que encontramos aqui em Mateus foi colocada na classificação que ele denomina de “Mandamentos Hiperbólicos”, isto é, mandamentos que não devem ser tomados “ao pé da letra”, mandamentos que não são para serem cumpridos porque o objetivo de Jesus não é que os cumpramos e sim que tenhamos a nossa atenção voltada para algo que ele objetiva nos ensinar e, para isso, lança mão de uma figura de retórica, a hipérbole, que consiste em exagerar para produzir maior impressão no espírito.

04. E a respeito de quê Jesus quer nos chamar a atenção?

05. Mais uma vez afirmo: Jesus quer nos chamar a atenção para a gravidade do pecado e a importância de nossa alma e seu destino eterno.

06. O que Jesus está a nos ensinar é que qualquer coisa neste mundo que nos sirva de armadilha contra o bem estar eterno de nossa alma deve ser renunciada.

07. Em Lucas 14.26 lemos a fortíssima declaração de Jesus: “Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14:26 RC)

a.    Ora, obviamente Jesus não está ensinando que para sermos seus discípulos devemos odiar e abandonar nossos familiares e nem deixá-los de lado de forma inconsequente. Familiares e a própria vida.

b.    Se não, então o que devemos entender dessa passagem?

c.    Trata-se de uma linguagem de contraste e significa que ser discípulo de Jesus, e, consequentemente, o bem estar eterno de nossa alma é mais importante ATÉ MESMO do que familiares e a própria vida. Deixar familiares de forma inconsequente se eles não nos impedem a caminhada com Deus? NÃO!!! Mas se eles quiserem impedir e não aceitarem “levar a vida” conosco caso não voltemos atrás em nossa fé...

d.    Agora, se é assim no que respeita a essas “coisas” que nos são tão caras, o que dizer de outras menos importantes?

08. Jesus está nos mostrando da forma mais clara possível que a importância da alma e do seu destino é tal que TUDO o mais deve ser subserviente a isso; TUDO o mais dever ser secundário em relação a isso.

09. Meu querido irmão, membro desta abençoada igreja, a Igreja Batista em Muqui, você já conseguiu perceber que a coisa mais importante que você tem a fazer neste mundo é se preparar para a eternidade?

10. Não estou com isso querendo diminuir a importância da vida neste mundo e nem das coisas boas que você faz; mas, enquanto você vai vivendo esta vida e fazendo aquilo que lhe cumpre fazer, você deve viver e fazer como quem está se preparando para a eternidade e para a glória que o espera. E, portanto, deve evitar aquelas coisas que são prejudiciais à sua alma. “Corta e atira para longe de ti”, disse Jesus.

11. Diante disso lhe pergunto: O que em sua vida está precisando ser “cortado e lançado para longe de ti”?

12. E talvez eu até deva perguntar se você não está lançando para longe ti coisas que não deveria lançar enquanto traz para perto de ti, para o contexto de sua vida, aquilo que deveria lançar para bem longe...

a.    Paulo, escrevendo aos Colossenses, nos exorta a que busquemos as coisas que são de cima e pensemos nas coisas que são de cima e não nas que são de terra... Creio que entendemos muito bem o que ele quer dizer; creio que entendemos bem que devemos dar prioridade às coisas celestiais. Mas não é que muitas vezes fazemos o contrário?

                                  i.    “Éééé”, pastor? Sim, “éééééé”! Quando, de forma costumeira, não esporádica, deixamos de lado a igreja, a leitura da Bíblia, a oração e outras coisas mais, concernentes ao reino de Deus, e vamos ver TV, navegar na internet, sair com os amigos, jogar futebol ou outra coisa qualquer desse naipe, não estamos exatamente fazendo uma inversão de prioridades?

b.    No mesmo capítulo de Colossenses somos orientados a nos despirmos do velho homem com seus feitos e nos vestirmos do novo. Não fazemos o contrário às vezes?

                                  i.    Veja lá nesse texto, e veja também em outros textos, de forma meticulosa para não deixar “passar batido” coisas “menores”; veja lá quais são os feitos do “velho homem”, da “velha criatura” e quais são os feitos do “novo homem” e com sinceridade me responda se muitas vezes não fazemos o contrário do que deveríamos fazer.

13. Meu querido irmão, que importância tem para você a sua vida com Deus? Que importância tem para você a sua alma? Para Jesus essas coisas tem importância extrema ao ponto de ele se expressar de forma hiperbólica dizendo que se alguma parte de seu corpo lhe traz prejuízo nessa área é melhor cortar essa parte do corpo e lançá-la para bem longe de ti, porque é melhor ter um corpo defeituoso do que ser ele todo lançado no inferno.

14. Deu pra entender, meu caro irmão em Cristo? Então não fique por aí “cambaleando” na vida cristã; assuma-a de forma radical, trazendo sempre à memória que o pecado, seja Ele qual for, por ser cometido contra um Deus eterno e eternamente Santo, é grave; e também traga sempre à mente que o bem estar eterno de sua alma é mais importante que tudo, até mesmo mais importante que a sua própria vida.

 

III. A importância da mortificação do pecado.

 

01. Paulo, escrevendo aos Colossenses, no mesmo capítulo 3 já citado, orienta os crentes a “mortificarem” ou “fazerem morrer” a natureza terrena.

02. O mesmo ele diz escrevendo aos Romanos, em 8.13. Veja: “porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” (RC)

03. Ora, isso é muito correto em face da gravidade do pecado e a importância da alma, conforme aprendemos com Jesus e conforme podemos aprender em o Novo Testamento como um todo.

04. Um dos significados de mortificar é “privar de poder, destruir a força de...”.

05. As palavras severas de Jesus nos levam então a pensar, com respeito ao pecado, que é importante “privá-lo de poder” ou “destruir a sua força” sobre nós.

06. Como? O que podemos fazer de nossa parte para que o pecado deixe de ter esse poder sobre nós.

07. Apenas algumas sugestões práticas:

a.    Nunca devemos “nutrir a carne” – Paulo diz exatamente isso em Romanos 13.14: “... revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências.” (RA)

                                  i.    Isso significa que preciso, o quanto for possível, evitar “alimentar” a minha carne no tocante às suas inclinações pecaminosas (e em alguns casos eu diria que temos que evitar alimentar a inclinação carnal do nosso próximo). Exemplos:

·         O que estou procurando ver/ler na internet, TV, cinema, revistas, livros, na rua...

·         Como estou namorando...

·         Como estou me vestindo... (a forma como eu me visto pode alimentar meu próprio desejo sexual ao me sentir “provocante” e pode alimentar o desejo sexual do meu próximo).

·         Como estou reagindo:

ü  Diante de injustiças sofridas ou provocações – minha carne talvez seja inclinada à ira, ao rancor, à amargura... Mas no momento em que percebo que isso começa a acontecer devo dar um “basta”, “tirar do coração”, “não deixar esses sentimentos se fortalecerem”, “cortar o mal pela raiz”...

ü  Diante de críticas ou mesmo elogios – rancor... orgulho...

                                ii.    Devemos procurar perceber qualquer coisa que esteja alimentando nossas inclinações pecaminosas e “cortar o mal pela raiz”.

b.    Precisamos restringir deliberadamente a carne reagindo radicalmente a cada sugestão e insinuação que pretenda levar-nos na direção do mal. Devemos orar e vigiar.

c.    E precisamos, mais uma vez, perceber o preço imenso que teve de ser pago para que fôssemos libertos do pecado.

d.    E, ainda, precisamos fazer tudo isso com humildade na dependência do Espírito Santo de Deus, porque sem Ele todo o nosso esforço será inútil. Nas palavras de Lloyde-Jones:

 

Se tentarmos mortificar a carne contando apenas com nossas próprias forças, produziremos um falso tipo de santificação, que nem poderia ser denominada santificação. Por outro lado, se percebermos o poder e a verdadeira natureza do pecado, se percebermos o terrível domínio que o pecado exerce sobre o ser humano, bem como seus efeitos poluentes, então notaremos que somos totalmente falidos de espírito, totalmente pobres, e haveremos de pleitear constantemente aquele poder que somente o Espírito de Deus nos pode propiciar. Dotados, portanto, desse poder, seremos capazes de “arrancar o olho” e de “cortar a mão”, mortificando a carne e dessa forma dar solução ao problema. Entrementes, o Senhor continuará operando em nós, e avançaremos até que, finalmente, poderemos vê-Lo face a face, postos de pé diante dEle, no estado de quem é impecável, sem qualquer culpa, nem mancha e nem qualquer motivo de reprimenda.

 

Conclusão

 

01. Nunca nos esqueçamos:

a.    Pecado é coisa “grave”;

b.    Pecado é pecado independente de ser “grande” ou “pequeno” aos olhos de quem quer que seja. Diante de Deus é pecado e precisa de arrependimento e confissão;

c.    Nunca se esqueça da importância da alma e seu destino eterno e de que sua vida neste mundo deve ser encarada como uma preparação para a vida no porvir. Isso é o mais importante e qualquer outra coisa é secundária em relação a isso e se necessário for deve até ser renunciada.

d.    E diante disso vemos a importância da mortificação do pecado, isto é, de destruir a força do pecado em nós, privá-lo de seu poder em nós, combatendo-o e não provendo nossa carne de qualquer coisa que o alimente.

02. Convido-os a encerrarmos o presente estudo lendo juntos novamente Mateus 5.29-30:

 

“Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.” (Mateus 5:29-30 RC)

 

03. Que assim seja!

 

Pr. Walmir Vigo Gonçalves

 

Baseado em “A Mortificação do Pecado”

Capítulo XXII de “Estudos no Sermão do Monte”

Martyn Lloyd-Jones – Editora Fiel

 

 Muqui, Março de 2013

sábado, 29 de dezembro de 2012

Estudos no Sermão do Monte / parte 16 - A Grande Pecaminosidade do Pecado


A GRANDE PECAMINOSIDADE DO PECADO

 

Elaborado com base em estudo com mesmo tema em

Estudos no Sermão do Monte, de M. Lloyd-Jones.

 

“27 ¶ Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. 28  Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela. 29  Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. 30  E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.” (Mateus 5:27-30 RC)

 

01. Diante de nós está um exemplo semelhante ao anterior:

a.    Fizemos uma leitura do exemplo anterior considerando que matar não significa apenas cometer o homicídio literal;

b.    E agora, neste exemplo, podemos fazer uma leitura semelhante e verificar que adultério também não acontece apenas quando cometemos o ato literal – o ato literal é apenas a consumação daquilo que já aconteceu no coração.

02. A palavra de Jesus é bastante clara e se quisermos nos deter apenas no assunto “adultério”, até poderíamos apenas ler o texto. Entretanto, essa palavra de Jesus nos leva a pensar naquilo que Lloyd- Jones denomina de “a grande pecaminosidade do pecado”, que é algo que precisamos compreender e de cuja compreensão depende o entendimento acerca da própria salvação e de tudo o que nela está envolvido.

03. Por que Jesus morreu na cruz? Por que ele se recusou que seus seguidores o defendessem? Por que ele não recorreu, como bem poderia ter feito, segundo ele mesmo, ao auxílio de doze legiões de anjos para o protegerem no momento em que o prenderam? Qual é o significado da morte de Cristo na cruz?

04. Essas são perguntas que não podem ter respostas corretas a menos que compreendamos o que é o pecado e a sua gravidade.

05. Não evangelizaremos de verdade se não temos compreensão do que é o pecado. Antes de oferecer às pessoas uma maravilhosa vida nova tendo Jesus como Amigo é preciso levá-las à convicção de pecado, do que ele realmente é e de sua real gravidade.

06. Nas palavras de Lloyd-Jones:

 

O evangelismo autêntico, em virtude da doutrina do pecado, sempre deve ter início pela pregação das exigências da lei. Isso significa que devemos explicar que a humanidade está diante da Santidade de Deus, que os homens são confrontados pelos Seus requisitos e também pelas horrendas consequências do pecado. É o próprio Filho de Deus quem adverte os homens da possibilidade de serem lançados no inferno. Ora, se porventura você não gosta (crê) da doutrina do inferno, então está simplesmente discordando de Jesus Cristo. Ele, que é o Filho de Deus, acreditava na existência do inferno; e é na exposição do que Ele fez sobre a verdadeira natureza do pecado que descobrimos que Ele ensinou que o pecado, em última análise, leva os homens ao inferno. Assim sendo, a evangelização de uma pessoa deve começar pela santidade de Deus, pela pecaminosidade do homem, pelas exigências da lei, pela punição determinada pela lei e, finalmente, pelas eternas consequências do mal e da prática da injustiça. Somente o indivíduo que foi levado a perceber a sua culpa, dessa maneira, pode recorrer a Cristo, para dEle receber livramento e redenção.

 

07. Não compreenderemos corretamente o evangelho e não evangelizaremos corretamente, bem como não possuiremos verdadeira santidade e não compreenderemos de verdade o amor de Deus a menos que entendamos no que consiste o pecado.

08. A menos que compreendamos que o pecado não consiste apenas de atos praticados, laboraremos em erro assim como faziam os fariseus.

09. Jesus nos ajuda a entender isso quando, com suas palavras expressas nestes versos, nos direciona o pensamento para três fatos acerca do pecado. O primeiro é:

 

A profundeza do pecado.

 

01. “Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”, disse Jesus. E isto significa que o pecado não envolve apenas uma questão de atos, antes é algo que está no interior do coração humano. Os atos são apenas a superfície, o pecado está localizado em lugar muito mais profundo do que naquilo que vemos na superfície.

02. Os atos pecaminosos são, podemos assim dizer, os sintomas da enfermidade chamada pecado que está arraigada no coração humano.

03. Essa é a verdade que Jesus destaca para nós neste texto. O fato de você nunca ter cometido um ato de adultério não significa que você não tenha qualquer culpa nesta área. Para aqueles que disto se orgulham e talvez até digam, como o fariseu que foi ao templo orar disse dos demais homens e do publicano que ali também estava, se comparando como melhor por não cometer os mesmos atos, talvez Jesus faça a pergunta: “O que você me diz sobre o seu coração?”

04. Como está o seu coração, meu irmão?

05. Em provérbios 4.23 lemos: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida.”

06. O profeta Jeremias já dizia: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9 RC)

07. Jesus disse, e Marcos Registrou que: “21 ... do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, 22  os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. 23  Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7:21-23 RC)

08. É por isso que Jesus disse nas bem aventuranças que “bem aventurados são os que choram” e que “bem aventurados são os que têm fome e sede de justiça”, isto é, bem aventurados são aqueles que lamentam e que gemem por causa do pecado ansiando dele serem completamente livres. Aqueles que isso fazem entendem o quão profundo ele é e o quão arraigado ele está no coração humano fazendo dele um miserável pecador diante da Santidade de Deus, mesmo que não cometa determinados atos, mesmo que não manifeste determinados sintomas.

09. Veja o desespero de Paulo por causa do pecado e depois o seu alívio por causa da libertação em Jesus Cristo:

 

Romanos 7:

 

¶ Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás. 8  Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a concupiscência: porquanto, sem a lei, estava morto o pecado. 9  E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri; 10  e o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. 11  Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou e, por ele, me matou. 12  Assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom. 13  Logo, tornou-se-me o bom em morte? De modo nenhum! Mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno. 14 ¶ Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. 15  Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço. 16  E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. 17  De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. 18  Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. 19  Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. 20  Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. 21  Acho, então, esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. 22  Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. 23  Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. 24  Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? 25  Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado.

 

Romanos 8:

 

1 ¶ Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito. 2  Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.

 

10. Não que Paulo vivesse cometendo atos pecaminosos, mas ele sabia que, mesmo não cometendo tais atos, o pecado estava enraizado no mais profundo de sua natureza humana.

11. Precisamos compreender essa profundidade do pecado. E, tendo essa compreensão, compreenderemos também o quão desesperadamente nós e todas as demais pessoas precisamos do Senhor Jesus.

 

12. Convém, antes, de encerrar esse ponto, fazer algumas observações:

a.    Jesus, ao apontar mais para o coração do que para o exterior, não nos está autorizando a ter um comportamento de autojustificação quando cometermos um ato pecaminoso, julgando as outras pessoas dizendo que elas não “fizeram” mas o pecados está lá em seus corações.

b.    A disciplina por parte da igreja, especialmente a disciplina cirúrgica, é aplicada em geral com base nos atos pecaminosos e não com base no pecado abrigado no coração, mesmo porque não temos condições de julgar o coração de ninguém com respeito a algum assunto em particular e também porque se assim o fosse talvez todos nós tivéssemos que ser objeto de tal disciplina.

c.    Não obstante não sejam, em geral, aplicáveis determinados tipos de disciplina por parte da igreja àquilo que se comete no coração, não ficamos sem disciplina alguma. O que estamos fazendo aqui hoje, por exemplo, através deste estudo, pode se encaixar naquilo que se diz ser “disciplina formativa”.

 

13. Dito isto, passemos ao segundo fato:

 

A sutileza do pecado.

 

01. Por sutileza quero dizer capacidade de se infiltrar rápida e sorrateiramente e também a capacidade de desviar nossa atenção do foco que deveria ser o objeto de nossa atenta observação.

02. No caso em questão, o do adultério, tudo começa com um olhar.

03. Isso me faz lembrar o caso de Davi e Bate-Seba [1] – tudo começou com um olhar.

04. Isso me faz lembrar também de que às vezes somos grandemente tentados nesta questão e não “caímos” conforme muitos já “caíram”, e ficamos felizes, e de tão felizes até contamos com muita alegria para algum amigo nosso, dizendo como “quase” caímos e como Deus nos deu forças... Glória a Deus porque não chegamos ao “fim desse caminho”, mas não devemos nos esquecer de que se “quase” caímos é porque alguma parte desse caminho nós trilhamos e, portanto, pecamos, e a sutileza do pecado se manifesta desviando o foco do nosso olhar do fato de que pecamos no coração para o fato de que não cometemos o ato que o nosso coração desejou cometer, e porque não cometemos o ato e ficamos muito felizes, não nos damos conta de que pecamos e nos esquecemos de pedir perdão a Deus.

05. Confesso aos irmãos que enquanto penso sobre essa questão, divagando em minha mente acerca de diversas situações, a única conclusão a que consigo chegar é a de quão contaminados pelo pecado nós somos e quão perdidos nós estaríamos não fosse Cristo.

a.    Há a possibilidade de eu estar pregando para os irmãos e estar pecando ao mesmo tempo.

b.    Há a possibilidade de eu estar cantando um louvor a Deus aqui na frente e estar pecando ao mesmo tempo.

c.    Há a possibilidade de eu estar bem adiantado no processo da santificação, além de muitos ao meu redor e justamente por causa disso pecar.

d.    Há a possibilidade de eu desenvolver de forma excelente o meu ministério e acabar justamente isso me levando a pecar – eu posso me tornar orgulhoso de mim mesmo.

e.    Ao que me parece o pecado está por perto em todas as nossas ações e intenções e sutilmente as permeia quando nós menos esperamos e até mesmo sem nos darmos conta disso.

06. João Alexandre canta uma música intitulada “Coração” onde em uma parte ele canta perguntando: “Coração – entre o bem e o mal que distância haverá?”.

07. Quanto mais eu penso sobre isso, quanto mais eu me dou conta de o quanto o pecado está intrinsecamente arraigado em nossa natureza carnal, mais eu me dou conta de o quanto não apenas aquelas pessoas que vivem na prática de atos pecaminosos como também aquelas que em tais práticas não vivem precisam de Cristo [2]; mais eu compreendo a razão porque Jesus disse que bem aventurados são os que choram e que bem aventurados são os que têm fome e sede de justiça, sendo esse choro ou lamento justamente por causa do pecado e a fome e sede de justiça o ansiar por ser completamente livre desta praga que atinge a humanidade inteira; e também mais compreendo o desespero de Paulo e sua posterior expressão de alívio por causa de Cristo, registrados em Romanos 7.

08. Vamos adiante e pensemos um pouquinho, por último, sobre:

 

A natureza e o efeito pervertedores do pecado.

 

01. Perverter significa perturbar a ordem, desvirtuar, tornar mau...

02. O pecado é tão pervertedor e tão devastador que, sob sua influencia, aquilo que Deus me deu com o intuito de servir para o meu bem, acaba por se tornar meu inimigo.

03. Enxergamos isso pelo fato de Jesus dizer para arrancar o olho ou a mão que escandaliza. Obviamente que isso disse Jesus de forma simbólica, se não teríamos muitos cegos e manetas nas igrejas.

04. Então, o pecado desvirtua, torna mau... Nossos instintos da natureza humana, por exemplo, são em sua origem excelentes. Mas esses mesmos instintos acabam por se tornar nossos inimigos por causa do pecado.

 

Concluindo:

 

01. Não adulterarás!? Naturalmente que não. Mas, como está o nosso coração e a nossa mente no tocante a essa e outras questões?

02. Como escreveu Lloyd-Jones:

 

Deus proíba que qualquer de nós contemple a santa lei de Deus e se sinta satisfeito consigo mesmo. Se não nos sentirmos impuros neste momento, que Deus tenha misericórdia de nós. Se for concebível ficarmos satisfeitos com a nossa própria vida, por jamais termos cometido um ato de adultério, ou de homicídio, ou de qualquer desses outros pecados, então assevero que não conhecemos a nós mesmos e nem a negridão e imundícia de nossos próprios corações. Pelo contrário, precisamos dar ouvidos ao ensino de Bendito Filho de Deus e examinarmos a nós mesmos, perscrutando os nossos próprios pensamentos, desejos e imaginação. E, a menos que sintamos que somos vis e imundos, carentes de lavagem e purificação, a menos que nos sintamos totalmente falidos, numa terrível pobreza de espírito, e a menos que tenhamos fome e sede de justiça, então, que Deus tenha misericórdia de nós.

 

03. Somente quando assim entendermos acerca do pecado; somente quando assim entendermos o quão grave é pecado é que compreenderemos o evangelho. Somente neste ponto compreenderemos a razão da necessidade de Deus enviar Seu Filho Jesus, imaculado, puro e perfeitamente Santo para, pelo seu precioso sangue nos lavar de nossos pecados e nos livrar da condenação da lei.

04. Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus pelo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

05. Amém!

 

Pr. Walmir

 

Muqui – Dezembro de 2012



[1] Mulher de Urias, o heteu. O rei Davi pecou com ela e, depois da morte de Urias, casou com ela. Foi a mãe de Salomão.

[2] Que Deus me livre da atitude farisaica que diz “eu não sou como os demais homens...”