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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Estudos no Sermão do Monte / parte 31 - Razões Para Não Julgar

 

 

RAZÕES PARA NÃO JULGAR – Mateus 7.1-5

 

 

 

Estudos no Sermão do Monte – Parte 31

Livro texto usado como fonte deste estudo: Estudos no Sermão do Monte, de M. Loyde-Jones.

 

 

01.  No estudo passado pensamos na expressão "Não julgueis", raciocinando sobre o seu significado, e vimos que tal expressão não significa ausência absoluta de qualquer tipo de juízo. Porém, que o juízo, ou a crítica, que fizermos:

a.    Não seja final e condenatória;

b.    Não seja acompanhada de desprezo pelo outro;

c.    Não seja sobre causas imaginárias;

d.    Não seja sobre causas que não sejam justamente passivas de juízo e nem maior do que a causa realmente merece;

e.    E que não seja sem amor e sem misericórdia.

02.  Hoje veremos razões para não julgarmos dessa forma que não convém.

03.  A primeira delas é a seguinte:

 

... para que não sejais julgados (v.1)

 

04.  "Não julgueis para que não sejais julgados", disse Jesus, e esta é uma razão bem prática e pessoal.

05.  Porém, o que ela significa exatamente?

06.  Não será erro interpretar essa razão dizendo que não devemos julgar as outras pessoas se não gostamos que elas nos julguem, porque é isso que elas acabarão por fazer se assim nos comportarmos em relação a elas.

07.  Entretanto é erro completo interpretar essa declaração/razão dessa forma como se ela significasse apenas isso e nada mais, pois ela vai bem além.

08.  Sem sombra de dúvidas o significado maior é o de que não devemos julgar para não sermos julgados "POR DEUS".

a.    Mas, pastor, não lemos em João 5.24 que já passamos do juízo para a vida eterna e em Romanos 8.1 que não resta mais nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus?

b.    Sim, é verdade!

c.    Então, essas palavra de Jesus não devem ser para os crentes!

d.    Não, isso não é verdade! Essas palavras de Jesus são para os crentes, são para as pessoas para quem as bem-aventuranças s,ao verdadeiras.

09.  Então, como entender isso?

10.  Vamos entender quando não ignorarmos o ensinamento das Escrituras Sagradas quanto à existência de pelo menos três tipos ou variedades de julgamento por parte de Deus.

11.  Precisamos "abrir os olhos" para a existência de tais julgamentos divinos, por essa razão que estamos estudando aqui, que é o fato de nos tornarmos culpados de julgar de forma indevida os outros, e também pela razão de que muitos de nós temos nos tornado culpados de "falta de temor" e "reverência" diante de Deus, falta essa que se manifesta de diversas formas das quais quero citar algumas:

a.    A primeira, quero reenfatizar, é a do julgamento em desacordo com o ensinamento de Jesus,

                                          i.    O julgamento que visa condenar o outro;

                                        ii.    O julgamento acompanhado de desprezo pelo outro;

                                       iii.    O julgamento feito sobre bases imaginárias;

                                       iv.    O julgamento sem conhecimento de causa;

                                        v.    O julgamento persecutório, que não comentamos, mas que também está implícito.

                                       vi.    O julgamento destituído de amor e misericórdia; etc.

b.    Outra manifestação da falta de temor e reverência devidas a Deus que quero citar está na forma como nos comportamos quando estamos na presença de Deus em culto.

                                          i.    Eu sei que Deus é Onipresente e sempre estamos em Sua presença, mas o ambiente de culto é, digamos assim, "sagrado". Ora, amados, Moisés, quando Deus a ele se manifestou no episódio da "sarça Ardente" (veja Êxodo 3), lhe disse para tirar as sandálias dos pés porque o lugar em que ele estava era terra santa. Por que? É porque Deus ali estava se manifestando a Ele! Mas Deus não está em todo lugar, e Moisés, então, não esteve sempre em sua presença? Sim! Mas ali, em particular, Deus disse que ele, Moisés, deveria se comportar de forma diferenciada. Pois bem:

1.    Em ambiente de culto devemos evitar determinados tipos de roupas (homens e mulheres);

2.    Em ambiente de culto devemos evitar distração com aparelhos eletrônicos;

3.    Em ambiente de culto devemos evitar distração com conversas paralelas que nada têm a ver com o culto; uma palavra ou duas, uma observação ou outra é algo muito natural, mas tem gente que trava verdadeiras conversas o tempo todo, e pior, muitas vezes trava tais conversas com algum pobre coitado que está interessado no culto, mas não consegue se concentrar porque o vizinho de banco não deixa;

4.    Em ambiente de culto devemos evitar ficar olhando para as pessoas com objetivos que não sejam nobres;

5.    Em ambiente de culto devemos concentrar toda a nossa atenção Naquele que está sendo cultuado.

6.    E por aí vai...

7.    Mas quando não há temor e reverência a Deus, muitas das vezes nem nos damos conta de que estamos diante do Senhor de toda a terra para cultuá-lo, para adorá-lo e que nisto devemos empregar toda a nossa diligência.

c.    Manifestamos falta de temor e reverência a Deus quando a Sua Palavra "nos entra por um ouvido e sai pelo outro" – você gosta quando seu filho pequeno age assim com você?

d.    Manifestamos falta de temor e reverência, e isso para prejuízo nosso pessoal e de nossa igreja, quando não somos diligentes na busca por viver uma vida santificada, uma vida em que até uma roupa manchada pelo pecado é considerada com abominação para nós.

12.  Paro aqui em minha exposição de manifestações da falta de temor e reverência a Deus e prossigo dizendo de novo que precisamos abrir os olhos para os julgamentos divinos. Quais são eles? São pelo menos três:

 

a) O julgamento final e eterno.

 

13.  Esse é o julgamento que determina a grande separação que haverá entre crentes e incrédulos, entre as "ovelhas e os bodes", entre aqueles que permanecerão na glória eterna e aqueles que ficarão na perdição eterna.

14.  Esse é o julgamento do qual estamos livres se nos arrependemos de nossos pecados e cremos em Jesus. Já passamos desse juízo para a vida; com respeito a esse juízo não resta mais condenação para nós se estamos em Cristo Jesus. Esse juízo, se cremos de fato em Cristo, não precisamos mais temer.

15.  Todavia esse não é o único julgamento que encontramos na Santa Palavra de Deus. Há outros. Vamos ao segundo:

 

b) Uma espécie de julgamento a que estão sujeitos os filhos de Deus na face desta terra, precisamente pelo fato de serem filhos de Deus.

 

16.  O que você está dizendo, pastor? Deus tem um julgamento que Ele pode aplicar a mim enquanto aqui pelo fato de eu ser filho dele?

17.  É isso mesmo que eu estou dizendo. Esse julgamento é para esta realidade terrena e é, se não exclusiva, especialmente para aqueles que são filhos de Deus pela fé em Jesus. E é bom que abramos os olhos para essa realidade.

18.  Leiamos 1 Coríntios 11.17-32 para melhor entendermos essa afirmação.

19.  Atente bem para os versos 27 a 29 e depois os versos 30 a 32. O verso 29 termina dizendo que aquele que participa da Ceia do Senhor indignamente, come e bebe para sua própria condenação, ou, como diz outra versão, come e bebe juízo para si; e, logo a seguir, no verso 30, Paulo diz: "Eis a razão por que há entre vós...". O que há? "Fracos e doentes" e não poucos que "dormem".

20.  O que significa isso, meu irmão; você sabe?

a.    Significa enfermidade e morte como juízo da parte de Deus quando insistimos em permanecer no erro;

b.    Significa que se vivermos uma vida caracterizada pelo erro, mui provavelmente seremos julgados/disciplinados pelo Senhor.

c.    Significa que somos tolos quando imaginamos que, como filhos de Deus, podemos viver ante Sua presença Santa sem santidade e sem o temor e a reverência que Lhe são devidos.

21.  E não devemos pensar que se deixarmos de tomar a ceia tais coisas não nos acometerão. A orientação não é deixar de tomar a ceia, a orientação é deixar o erro.

22.  Nessa mesma carta aos Coríntios Paulo fala sobre entregar certo crente a satanás para ser corrigido dessa forma (veja o cap. 5)

23.  Por que isso? Por que esse julgamento?

24.  Podemos encontrar a razão em Hebreus 12. Leia lá até o verso 8.

25.  Efésios 5.27 diz que Jesus vai apresentar sua igreja a si mesmo, no fim, "gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível". Para isso ele já se entregou a si mesmo por ela, e agora trabalha em sua purificação e isso implica em julgamento de pecados e disciplina.

26.  Como bem se expressou Lloyde-Jones: "Deus está conduzindo os Seus filhos à perfeição, e, por conseguinte, Ele os disciplina neste mundo; Ele julga os pecados e os defeitos deles enquanto estão vivendo nesta terra a fim de prepará-los para a glória".

27.  Você já se perguntou por que algumas coisas acontecem com você? E já se perguntou por que algumas coisas que você gostaria que acontecessem NÃO acontecem?

28.  Algumas coisas que acontecem ou deixam de acontecer em nossa vida e até em nossa igreja podem ter como causa pecados que insistimos em manter; podem ter como causa certo espírito de rebelião que insistimos em manter contra Deus e Sua Palavra justificando às vezes tal comportamento com coisas que não justificam; podem ter como causa a falta de temor e reverência com que nos comportamos diante do Deus em quem dizemos crer e a quem dizemos respeitar.

29.  Durante todo o tempo em que estamos vivendo neste mundo, estamos sob os olhos de Deus. Nunca houve e nunca haverá um milionésimo de segundo sequer em que Deus não esteja nos vendo. Não há nenhum pensamento nosso que Ele não conheça. Não há, portanto, nenhum pecado nosso que possa Lhe ser ocultado. E esse Deus, que tudo vê e tudo conhece, porque somos Seus filhos e Ele nos ama e se interessa por nós e nos está preparando para viver na glória eterna, nos disciplina quando nós mesmos não nos encarregamos disso.

30.  Essa é, então, a segunda espécie de julgamento que encontramos na Palavra de Deus.

31.  Pensemos agora na terceira espécie de julgamento, que é:

 

c) O julgamento dos galardões.

 

32.  Vimos, então, que existe uma espécie de julgamento para o povo de Deus sobre a face desta terra, e agora veremos que existe também um julgamento para o povo de Deus quando deixar a face desta terra, que estamos chamando aqui de julgamento de galardões.

33.  Isso é algo muito claramente ensinado nas Escrituras.

34.  Abra sua Bíblia em Romanos 14. Leia o verso 10.

35.  "Todos compareceremos perante o tribunal de Cristo", diz aí o Apóstolo Paulo. E Paulo está falando de servos de Deus.

36.  Veja ainda 1 Coríntios 3.11-15. O foco particular aqui é sobre a pregação do evangelho e as realizações dos ministros da igreja, mas a passagem aponta também para um julgamento das realizações de todos nós desde o dia em que nos entregamos a Jesus pela fé.

37.  Agora veja 2 Coríntios 5.10.

38.  Ora, estas palavras não foram dirigidas a incrédulos; essas palavras foram dirigidas a pessoas crentes. Os crentes haverão de comparecer perante o tribunal de Cristo e ali haverão de prestar contas, de ser julgados, conforme aquilo que tiverem praticado neste mundo, incluindo tudo quanto for bom ou mau. Mas, conforme bem se expressou Lloyde-Jones:

 

Esse julgamento não terá por finalidade determinar o nosso destino eterno; não se trata de um julgamento para decidir se iremos para o céu ou para o inferno. Não, essa questão já foi inteiramente resolvida. Mas, é um julgamento que haverá de afetar o nosso destino eterno, embora sem determinar se esse destino será o céu ou o inferno, mas decidindo o que sucederá conosco na dimensão da glória. Não nos são fornecidas nas Escrituras maiores detalhes do que esses; mas que haverá um julgamento referente aos crentes é algo claro e especificamente ensinado na Bíblia.

 

39.  Eis aí, então a primeira e principal razão pela qual não devemos fazer julgamento indevido das pessoas: seremos julgados pelo Senhor. "Embora sejamos crentes, justificados pela fé, e embora tenhamos a certeza da nossa salvação e saibamos que nos estamos dirigindo para o céu, ainda assim estamos sujeitos a esse julgamento aqui nesta vida tanto quanto após túmulo". (Lloyde-Jones)

 

40.  Vejamos agora a segunda razão para não julgarmos da forma que não convém:

 

... com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. (V. 2)

 

41.  Isso significa que de certa forma seremos julgados de acordo com os nossos padrões pessoais.

42.  Confesso que tenho alguma facilidade de compreender essa declaração de Jesus aplicando-a a nós homens (seres humanos), porque entre nós essa é a tendência entre nós. Devemos vigiar quanto a isso, porque em geral essa é uma tendência vingativa, e, nesse caso, ambas as partes incorrem em grave erro.

43.  Entretanto, quando se trata de Deus, há certa dificuldade, porque Deus, sendo onisciente, não necessita desse critério. Penso que muitas das formas de agir de Deus sejam por nossa causa e não por causa Dele mesmo. Por exemplo, Ele nos orienta a colocarmos diante Dele, em oração, as nossas necessidades, mesmo conhecendo-as todas melhor do que nós mesmos...

44.  Há alguns textos que nos dizem alguma coisa, dentre os quais cito dois:

a.    Romanos 2.1-4 diz-nos alguma coisa – os que julgam (de forma errada, coforme já vimos), se esquecem de pelo menos duas coisas:

                                          i.    De seus próprios pecados e

                                        ii.    Do fato de que se alguém hoje está bem diante de Deus, não é pelos seus méritos pessoais, mas por causa da benignidade de Deus que o levou ao arrependimento.

1.    Tenho um exemplo do qual tomei conhecimento nestes últimos dias. Trata-se de alguém que muito prejudicou propositadamente o ministério de outro alguém no passado. Acontece que esse alguém que prejudicou, passado o tempo, se converteu. Relutou muito durante cinco anos, mas depois se rendeu de vez aos pés de Jesus. Tempos depois foi até o prejudicado para pedir e receber perdão. Não foi recebido pessoalmente, e depois recebeu de volta sem ter sido aberta uma carta que escrevera com esse intuito de pedir perdão, e, além disso, teve a sua coversão desacreditada. O prejudicado esqueceu-se de uma coisa: Se Ele era convertido, o era por causa da benignidade de Deus que o levara ao arrependimento e que essa mesma benignidade poderia também ter sido agora manifestada àquele que o prejudicara no passado... Mas creio que tudo haverá de se resolver, pois são dois "grandes" servos de Deus.

45.  Tiago 3.1 também nos diz algo – a mim me diz que depois de julgar da forma errada, conforme temos considerado, posso chegar diante de Deus e ser duramente julgado por Ele; e se eu me queixar terei de ouvir que sendo eu apto para julgar o outro (volto a frisar que é julgar erroneamente, conforme temos visto – com o objetivo de simplesmente condenar e não de levantar, com desprezo, sem misericórdia...), deveria ter exercido juízo sobre mim mesmo, e, como eu não o fiz, Deus o fará.

46.  Outra razão é a que encontramos nos versos 3-5:

 

“E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?  Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.”

 

47.  Jesus é magnífico! Ele nos "fulmina" nesse texto com três golpes ao nos orientar a não exercermos o juízo que não nos convém, o juízo que visa não restaurar, mas apenas condenar e que até vem acompanhado de certo desprezo pelo outro:

a.    Para que não sejais julgados;

b.    Porque serão julgados com os mesmos critérios com que julgardes;

c.    E, finalmente, o golpe final e fatal: porque vocês não têm competência para exercer esse tipo de juízo – vocês não têm capacidade e nem autorização (pelo menos não por enquanto).

48.  Com esse "golpe final" Jesus leva nosso pensamento para algumas direções:

a.    Primeiro ele salienta com sua declaração irônica que o nosso intuito quando julgamos de forma errada, conforme temos visto ser forma errada, não é a retidão, não o juízo reto, porque se essa fosse a nossa intenção, haveríamos de julgar, antes de tudo a nós mesmos, inclusive julgando a real intenção em nosso coração ao exercermos juízo sobre determinada pessoa. Nas palavras exatas de Lloyde-Jones:

 

Gostamos de convencer-nos a nós mesmos de que estamos realmente interessados pela verdade e pela justiça, e de que esse é o nosso interesse exclusivo. Asseveramos que não queremos ser injustos com as pessoas, que não queremos criticá-las destrutivamente, que estamos preocupados somente com a verdade! Mas nosso Senhor por assim dizer assevera: "se vocês estão de fato preocupados com a verdade, então deveriam julgar a si mesmos. Não obstante, vocês nunca julgam a si mesmos. E disso se conclui que vocês, na realidade, não estão interessados na verdade". Eis um argumento justo! Se um homem afirma que seu único interesse é a justiça e a verdade, e que absolutamente não está visando personalidades, então ele será tão crítico de si mesmo quanto de seus semelhantes. O artista verdadeiramente grande é sempre o mais severo crítico de si mesmo....

 

b.    Segundo, ele mostra que pessoas que assim agem (e às vezes essas pessoas somos nós mesmos) não estão muito interessadas em princípios, e sim e alvejar os outros (se não sempre, pelo menos em ocasiões específicas). Não é o pecado que lhes interessa combater, mas alguma pessoa em particular – o mesmo pecado na vida de outros que lhes são queridos não lhes parece tão grave, e, pior, o pecado em suas próprias vidas, às vezes o mesmo pecado que combatem nas vidas dos outros, nãos lhes cheira tão mal. E "se somos impulsionados por algum preconceito, se somos impelidos por algum ânimo ou sentimento pessoal, então não somos os mais autênticos aquilatadores" (Lloyde-Jones). É interessante que a própria lei civil reconhece esse fato desqualificando para ser membro de um júri qualquer indivíduo que tenha alguma conexão com a pessoa que está sendo julgada. A imparcialidade se faz necessária. Se eu estou julgando pecados e não pessoas, não deve haver diferença se a pessoa sou eu, meu filho, minha esposa OU MEU INIMIGO PESSOAL. "O elemento pessoal tem que ser inteiramente aniquilado antes que possa haver julgamento verdadeiro" (Lloyde-Jones).

c.    Terceiro, ao dizer que antes de tirarmos o cisco do olho do outro temos que tirar a trave do nosso próprio olho, Jesus nos mostra que a nossa própria condição é tão ruim que nos torna inteiramente incapazes de julgar ao nosso próximo. Talvez Jesus não estivesse necessariamente dizendo: "você tem um pecado que é maior do que o dele", mas estava dizendo "Tem alguma coisa que está tapando os seus olhos, atrapalhando você enxergar o seu próprio erro; tire de seu olho isso que atrapalha e então, enxergue o seu próprio erro, trate-o, e daí você terá alguma condição de tratar do erro de seu irmão". Lloyde-Jones deixa-nos um comentário que ele ouviu e que muito nos diz sobre essa questão: "Há algo muito ridículo no indivíduo cego que procura guiar outro cego; mas existe um situação ainda mais ridícula do que esta, a saber: um oculista cego" – se aquele que se propõe a cuidar do olho do outro é cego, isso é bem esquisito.

d.    E, finalmente, Jesus, o único que não tem "cisco no olho, e muito menos uma trave", alerta-nos para a possibilidade de que na realidade não estejamos interessados em ajudar as pessoas e sim de simplesmente condená-las, e se assim o é, nossa atitude é uma atitude hipócrita.

49.  Meus amados irmãos, essas são razões para não julgarmos.

50.  Volto a repetir que não se trata de todo e qualquer juízo, mas o juízo errado conforme temos considerado aqui. Aconselho àqueles que quiserem refletir novamente sobre isso a que acessem este estudo e o anterior (30 e 31) em nossa página virtual. Aos que não acompanharam aqui insisto a que não tirem qualquer conclusão precipitada, sem olhar tudo o que foi considerado.

51.  Agora, se você quer realmente ajudar alguém, e não simplesmente condenar,

a.    Não se esqueça de que você mesmo é pecador. E não importa se seu pecado é bem menor que o do outro, não importa se seu pecado não é passivo da mesma disciplina que o do outro – pecados que geram escândalo são passivos da chamada "disciplina cirúrgica", entretanto, diante de Deus, qualquer pecado que insistamos em "levar conosco" é como se estivéssemos levando um gambá morto em nosso bolso (Deus tenha misericórdia de nós).

b.    Não se esqueça de que alguns de seus queridos podem estar cometendo o mesmo erro e devem igualmente ser ajudados por você – não deve haver acepção de pessoas.

c.    Não se esqueça da humildade que leva ao reconhecimento de que tanto você quanto o indivíduo da pior espécie que possa existir em todo o planeta só podem chegar ao arrependimento por causa da benignidade do Senhor. E muitos "piores" tem alcançado o reino de Deus primeiro que os "melhores". Foi o próprio Jesus quem alertou a alguns religiosos certa vez, dizendo-lhes que "publicanos e meretrizes entram adiante de vós no Reino de Deus".

d.    Não se esqueça da misericórdia devida – devíamos lamentar e chorar todos os dias por aqueles que estão em situação tal que precisam ser disciplinados ou já o foram. O Senhor Jesus, dentro da Sinagoga em Nazaré, expressou-se dizendo que no tempo do profeta Eliseu havia muitos leprosos em Israel, mas nenhum deles foi purificado, enquanto que Naamã, O SIRO, o foi por intermédio do profeta Eliseu. Por que? Existe uma razão principal que não cabe comentar aqui agora, mas algo que não nos pode passar despercebido é que na casa de Naamã havia uma menina israelita que havia sido levada prisioneira e designada a servir a mulher de Naamã com escrava da casa. E essa menina, vendo o estado de Naamã, leproso, e sabendo que ele era o chefe do exército que a tirara dos braços de seus familiares e a levara cativa, poderia muito bem ter se regozijado e até dito "bem feito", "ele tem o que merece"; mas não! Ela disse à sua senhora: "Ah, se o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria! Ele o pode restaurar de sua lepra!" – e o resto da história nós conhecemos muito bem. Isso é misericórdia!

e.    Não se esqueça de "falar a verdade em amor".

52.  E que Deus tenha misericórdia de nós para que não sejamos reprovados por Jesus como o foram muitos religiosos do tempo em que ele peregrinou por aqui.

 

Na graça, com temor e tremor,

 

Pr. Walmir Vigo Gonçalves,

 

Usando como fonte principal Martin Lloyde-Jones em "Estudos no Sermão do Monte".

 

Muqui – Agosto de 2013

 

sábado, 17 de agosto de 2013

Estudos no Sermão do Monte / parte 30 - NÃO JULGUEIS

 

NÃO JULGUEIS – Mateus 7.1

Estudos no Sermão do Monte – parte 30.

Livro base para estes estudos: Estudos No Sermão do Monte, de Martyn Lloyd-Jones

Outras obras usadas: O Novo Testamento Int. Vers. Por Vers. – R. N. Champlin / Recursos em BOL MA 3.00 / Dicionário Michaelis (online) / E-Book de Sermões e Ilustrações – Pr. Walter Pacheco

 

1.    Chegamos, finalmente, ao último capítulo do Sermão do Monte.

2.    Ainda vamos demorar um pouquinho mais para cobrirmos todo esse Sermão até o seu último verso, porque temos neste capítulo uma série de regras ou princípios que precisaremos estudar de forma separada, apesar de estas regras estarem interligadas pelo tema do juízo.

3.    Algumas vezes durante estes nossos estudos temos salientado que neste mundo caminhamos sob os olhos de nosso Pai Celestial. Mais uma vez devemos salientar isso. O nosso Deus é o Deus que tudo vê, é o Deus cujos olhos "estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons" (Pv. 15.3). É o Deus perante os olhos de quem estão todos os caminhos dos homens (Pv. 5.21). Então,

a.    Deus vê quando proferimos juízo errado contra alguém, mesmo que o façamos apenas nos recônditos do nosso coração;

b.    Deus vê se entramos pela porta estreita ou não; se estamos em caminho estreito ou no largo;

c.    Deus vê se somos pessoas que só dizem "Senhor, Senhor", mas não fazem o que Ele manda;

d.    Deus vê se nossa "casa" está sendo edificada sobre a areia ou sobre a rocha;

e.    Deus vê e sabe perfeitamente todas as coisas.

4.    Lembrados disso, pensemos no que Jesus nos diz em primeiro lugar neste capítulo.

5.    Em primeiro lugar ele nos diz: "Não julgueis..."

6.    "Não julgueis" é algo que gostamos de dizer. Guardamos essa declaração de Jesus em nossa mente e a usamos com frequência, muitas vezes sem entender o que ela realmente significa.

7.    O que realmente significa "Não julgueis"?

8.    Bem, primeiramente vejamos o que "não" significa:

 

"Não Julgueis" NÃO significa "não façam qualquer juízo"

 

9.    A ênfase dessa afirmação recai na palavra "qualquer", que significa aqui "nenhum".

10. Certamente que não é esse o significado dessas palavras de Jesus, e a razão de isso afirmar é o que encontramos na própria Bíblia como um todo e mais precisamente aqui mesmo neste capítulo.

11. Leiamos, por exemplo o verso 6: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; para que não as pisem e, voltando-se, vos despedacem.” Como poderíamos por em prática essa palavra de Jesus se nos fosse realmente vedado fazer "todo e qualquer" juízo? Como poderíamos identificar o indivíduo merecedor do título de "cão" e "porco" (obviamente uma metáfora para pessoas de mente impura)? Em outras palavras, à declaração de Jesus de que não devemos julgar se segue imediatamente outra que nos pede que exerçamos juízo e classificação de pessoas.

12. Outro exemplo o temos nos versos 15 e 16: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.  Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” Ora, como poderíamos nos acautelar dos falsos profetas se não pudéssemos pensar, se não pudéssemos fazer algum tipo de juízo crítico, se não pudéssemos fazer jamais alguma avaliação dos ensinamentos de alguém? E como poderíamos conhecê-los pelos "seus frutos" se não nos fosse jamais permitido fazer qualquer juízo crítico sobre as práticas de alguém?

13. Então devemos procurar entender melhor, mais corretamente essas palavras de Jesus e, entendendo-as veremos que elas NÃO significam absolutamente que devemos ser pessoas caracterizadas por atitude de frouxidão e condescendência diante de qualquer indivíduo que use o nome de cristão.

14. Pensemos um pouco mais nessa questão, observando agora outras partes da bíblia que nos trazem luz. Uma dessas partes é a parte que nos mostra que à igreja cabe exercer disciplina sobre aqueles que dela fazem parte. Não tem isso na Bíblia? Sim tem! E se tem, como é que vamos colocar em prática se não nos é permitido de forma alguma fazer qualquer tipo de juízo? Como vamos "julgar" que determinada pessoa precisa ser disciplinada?

15. Outras partes são aquelas em que encontramos, principalmente o Apóstolo Paulo, exercendo e/ou instruindo a que se exerça alguma espécie de "julgamento".

a.    Veja 2 Timóteo 2.16-18

b.    Tito 3.10-11

c.    1 Coríntios 5.1-5 e 6.1-5

d.    1 Timóteo 5.19 (Presbítero = aquele que preside uma igreja – mostra que até o "ungido do Senhor" pode ser denunciado/julgado, ainda que não "de qualquer maneira", sem testemunhas – coloco isso aqui porque houve certa polêmica por esses dias sobre isso, quando alguém muito famoso disse pra não falarem contra pastor, mesmo que ele esteja no erro – e isso foi dito em tom ameaçador, como se Deus fosse amaldiçoar...)

16. Há muitos outros exemplos, mas estes nos bastam para nos fazerem pelo menos pensar que ao dizer "não julgueis" Jesus não estava nos proibindo de exercer todo e qualquer juízo.

17. Precisamos pensar mais, então. Precisamos procurar entender, e se não o conseguirmos no todo, pelo menos em parte, o que significa essa palavra de Jesus.

18. E, raciocinando à luz daquilo que encontramos em o Novo Testamento como um todo podemos pensar no seguinte, a título de exemplos, apenas para "abrir a nossa mente" em relação à questão:

 

"Não julgueis" significa que NÃO devemos exercer juízo condenatório e acompanhado de atitude de desprezo pelo outro.

 

19. Podemos, e mais do que podemos, devemos, como vimos, fazer avaliações e tais avaliações serão necessariamente com base em alguma espécie de julgamento, mas não devemos exercer o juízo condenatório contra qualquer pessoa.

20. Creio que a melhor maneira de entendermos o que significa esse juízo condenatório é através do exemplo, e na Bíblia o temos – veja em João 8.1-11 e veja também Lucas 9.51-56.

21. O juízo condenatório oferece alguns perigos, ou poderíamos dizer: se manifesta de algumas formas:

a.    O perigo do "ego inflado", ou do sentimento de superioridade – Essa manifestação leva a um desprezo pelo outro, a um sentimento de que o outro não é e nunca poderá ser digno "como nós somos" (ou pelo menos achamos que somos) – Veja Lucas 18.9-14.

b.    O perigo de nos tornarmos "críticos destrutivos" – Existe uma diferença entre crítica e "crítica". Uma visa a melhora do criticado enquanto a outra visa a derrota. A crítica construtiva pode até ser desfavorável, mas vem acompanhada do desejo e às vezes até da colaboração para que haja mudança para melhor. Já a crítica destrutiva, como o próprio nome diz visa a derrocada total e muitas vezes vem até acompanhada de um certo deleite pela situação ruim do outro. O crítico destrutivo tem uma satisfação maliciosa e maligna quando consegue detectar falhas e defeitos, e às vezes até se desaponta quando não as consegue encontrar, porque vive na expectativa destas coisas e deleita-se nelas. (Se estivéssemos na Assembleia de Deus do Pr. Joel certamente que agora alguém diria "Misericórdia!" – Me refiro a um irmãozinho de lá que assim se expressou numa ocasião em que eu lá estava a convite e que o pregador falou de algo errado que às vezes pastores também cometem). Enquanto eu digo isto talvez algumas pessoas venham à sua mente; Esqueça-as! Pense em você e em quantas vezes você mesmo comete esse erro. Como disse verdadeiramente Martin Loyde-Jones:

 

Se ao menos sabemos o que significa deleitar-se quando ouvimos algo de desagradável acerca de outrem, então é que temos essa atitude errada. Se somos invejosos, ou ciumentos [ou temos algum outro sentimento ruim em relação a alguma pessoa], e então subitamente ouvimos que [esta pessoa] incorreu em algum delito, e nisso descobrimos um imediato senso de satisfação em nosso íntimo, é que esse erro já nos infeccionou. Essa é a condição que conduz a esse espírito de julgamento.

 

"Não julgueis" significa que NÃO devemos exercer juízo "imaginário".

 

22. E como isso acontece!

a.    Acontece quando, por exemplo, imputamos motivos – Alguém se comporta de determinada forma que não sabemos porque e logo começamos a imaginar motivos. Eu tenho guardada uma boa história para ilustrar:

 

AQUELA RUA SOSSEGADA

 

Era um país distante daqui muitas e muitas milhas, havia uma grande cidade e nela uma rua pequena, com poucos quarteirões, sem saída, parecendo um pequeno condomínio.

Era uma rua sossegada.

Todos os moradores se conheciam e tudo transcorria em harmonia, até que chegaram novos habitantes para uma casa recém desocupada.

E os moradores antigos começaram a questionar, entre si:

- É uma família estranha.

- A dona da casa é esquisita.

- Pinta-se demais.

- Parece que passa o dia dormindo.

- Seus filhos ficam muito na rua.

- Recebe vários homens.

- Recebe também casais, às vezes acompanhados de uma mulher jovem.

- Parece que faz uso de drogas.

- Dá-se ao luxo de ter uma governanta.

- Não tem marido.

- É... deve ser uma "daquelas".

A maledicência chegou ao ponto máximo e depois começou a diminuir, "como é comum entre os homens". A estranha família foi relegada ao ostracismo e os vizinhos proibiram os filhos de brincar com "aquelas crianças". A rua retornou à sua quietude.

Um dia, viram uma ambulância chegar e levar a senhora. Na semana seguinte, souberam de sua morte ocorrida em um hospital.

Vieram alguns casais, levaram as crianças, e a "governanta" ficou mais um tempo, fechando a casa. Foi por ela que souberam de tudo. Aquela senhora, viúva de um militar, morto em combate, sofria de uma doença incurável, em fase terminal. Resolveu deixar o hospital para passar os últimos dias com os filhos e uma grande amiga, que veio para ajudá-la. Tomava analgésicos poderosos para amenizar-lhe as dores. Pintava-se muito para disfarçar a palidez. Os filhos brincavam na rua para não presenciar o tempo todo o seu sofrimento. Os homens eram o seu médico, o advogado, o psicólogo, o pastor de sua igreja. Os casais eram pessoas que tinham a intenção de adotar seus filhos. A mulher jovem era a assistente social...

 

b.    Acontece quando o exercemos sem conhecimento dos fatos e quando não procuramos compreender as circunstâncias.

                                  i.    Somos mestres, por exemplo, em "tomar o partido de alguém" sem conhecer a realidade dos fatos, sem compreender as circunstâncias, e acabamos por julgar mal, muitas vezes injustamente, a outra parte envolvida.

c.    Acontece quando "achamos" (não sabemos, mas "achamos") que alguém está se comportando de determinada forma porque, por exemplo:

                                  i.    Trabalha em algum tipo de emprego;

                                ii.    Já fez isso no passado e porque não faria de novo?

                               iii.    É solteiro/viúvo/divorciado e tem namorado(a), então está tendo relação sexual – (Duvido que não! – ainda se diz)

                               iv.    Etc.

 

"Não julgueis" significa que NÃO devemos exercer juízo sobre causas que não são causas justamente passivas de tal juízo. Em nosso caso, causas biblicamente embasadas. E também não devemos exercem juízo maior do a causa realmente merece.

 

23. Veja um exemplo em Colossenses 2.16-17

24. Uma vez (isso foi na década de 80) em uma determinada igreja que fomos, eu fui "julgado" crente de verdade enquanto que minhas colegas foram julgadas como não crentes de verdade, pela razão de elas estarem usando brincos, e, se não me falha a memória, meias calça.

25. E quanto a "enxergar algo maior do que realmente é", J. C. Ryle dizia que temos a "tendência de ver as fraquezas dos outros com lentes de aumento".

 

E, finalmente, "Não julgueis" significa que melhor que exercer juízo é exercer o amor e a misericórdia.

 

26. Veja Mateus 9.9-13 e Mateus 12.7.

Concluindo

 

27. Não julgueis, vimos, não significa ausência absoluta de qualquer tipo de juízo. Porém, que o juízo, ou a crítica, que fizermos:

a.    Não seja final e condenatória;

b.    Não seja acompanhada de desprezo pelo outro;

c.    Não seja sobre causas imaginárias;

d.    Não seja sobre causas que não sejam justamente passivas de juízo e nem maior do que a causa realmente merece;

e.    E que não seja sem amor e sem misericórdia.

28. Como disse o escritor John White, parafraseando a Bíblia: "coamos os mosquitos e engolimos os camelos, embora não se deva engolir nem mosquitos e nem camelos". O nosso julgamento como crentes precisa ser justo e amoroso, em todos os aspectos, com os nossos irmãos.

29. Veja Gálatas 6.1 e 1 Timóteo 5.1 e 2;

30. Obviamente, sabemos, em algumas ocasiões é preciso ser mais severo, mais grave – veja 1 Timóteo 5.20 e também veja 1 Coríntios 5.1ss, mas severidade e gravidade não significam desamor e falta de misericórdia.

31. Encerro com duas histórias que certamente nos acrescentarão alguma coisa:

 

Um pastor de uma pequena cidade estava evangelizando um fazendeiro, criador de porcos, tentando levá-lo a abrir seu coração para o Salvador. Todas as vezes que o pastor lhe falava de Jesus o fazendeiro apontava para os hipócritas da igreja. Certo dia, o pastor foi até a fazenda daquele homem e disse-lhe que desejava comprar um de seus porcos. "Tudo bem," disse o homem, "vou lhe mostrar os melhores porcos que tenho." "Não", retrucou o pastor, "quero o pior porco que o senhor tiver." "Mas por que deseja o pior se eu tenho excelentes porcos?", perguntou o fazendeiro. "É que eu pretendo levá-lo a todos os fazendeiros da vizinhança para mostrar o tipo de porcos que o senhor cria." Nós temos o péssimo costume de formar conceitos baseados no lado ruim daquilo que observamos. Se um político é corrupto, dizemos que todos os políticos o são. Se somos mal atendidos por um médico, criticamos a forma como todos os médicos atendem aos seus clientes. Se um estudante não leva a sério seus estudos na faculdade, logo concluímos que aquela instituição é fraca e seus professores incompetentes. O mesmo acontece na igreja. Se um cristão não age de maneira correta, logo proclamamos que "aquela igreja não é boa e seus membros são todos enganadores e hipócritas." Se um pastor age de maneira inconveniente e usa o dinheiro da obra de Deus sem a santidade que seu cargo exige, logo aparecem aqueles que se aproveitam para dizer que "os pastores só sabem cobrar o dízimo e enriquecer às custas dos bobos!" Mas na realidade, são atitudes de uma minoria, de pessoas que não têm qualquer experiência com Deus e se infiltram em certos lugares para tirarem proveito da situação.

 

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Conta-se que certo senhor foi passar uns tempos fora, visitando os seus familiares da zona rural. Quando voltou, encontrou um tal de João na estação e perguntou: “Houve alguma novidade na minha ausência?” “O senhor nem imagina”, relatou João, “deu uma ventania tão forte que derrubou minha casa”. “Isso não me espanta nem um pouco”, disse o senhor, que aliás se dizia crente. “Eu bem lhe avisei que seus pecados iam ser castigados, João”. João respondeu: “O vento derrubou sua casa também, senhor!” “Não me diga!” exclamou horrorizado e acrescentou: “Os desígnios do Senhor são insondáveis”

 

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Havia numa aldeia um velho muito pobre que possuía um lindo cavalo branco. Numa manhã ele descobriu que o cavalo não estava na cocheira. Os amigos disseram ao velho: - Mas que desgraça, seu cavalo foi roubado! E o velho respondeu: - Calma, não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está mais na cocheira. O resto é julgamento de vocês. As pessoas riram do velho. Quinze dias depois, de repente, o cavalo voltou. voltou. Ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso; ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente as pessoas se reuniram e disseram: - Velho, você tinha razão. Não era mesmo uma desgraça, e sim uma benção. E o velho disse: - Vocês estão se precipitando de novo. Quem pode dizer se é uma benção ou não? Apenas digam que o cavalo está de volta... O velho tinha um único filho que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um dos cavalos e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, se puseram a julgar: - E não é que você tinha razão, velho? Foi uma desgraça seu único filho perder o uso das suas pernas. E o velho disse: - Mas vocês estão obcecados por julgamentos, hein? Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe ainda se isso é uma desgraça ou uma benção... Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra e todos os jovens da aldeia foram obrigados a se alistar menos o filho do velho. Quem é obcecado por julgar cai sempre na armadilha de basear seu julgamento em pequenos fragmentos de informação, o que o levará a conclusões precipitadas. Nunca encerre uma questão de forma definitiva, pois quando um caminho termina outro começa, quando uma  porta   se fecha outra se abre. Assim é o curso da vida...

 

 

Muqui – Agosto de 2013