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domingo, 28 de abril de 2013

Estudos no Sermão do Monte / parte 22 - Amai… Até os vossos inimigos

 

AMAI... ATÉ OS VOSSOS INIMIGOS

 

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus. (Mateus 5:43-48 RC)

 

01. O amor é uma virtude muito poderosa, a mais poderosa de todas. Paulo, em 1 Coríntios 13, diz que sem ele, ainda que a pessoa possua uma série de outras qualidades (dons), ela nada seria.

02. Platão, em “Banquete”, diz, sobre o amor, que ele supre bondade e bane a maldade; que ele oferece amizade e perdoa a inimizade; que ele é a alegria do bondoso e a maravilha do sábio; que em cada palavra, trabalho, desejo, temor, ele é o piloto, o camarada, o ajudador, o melhor e mais brilhante orientador, em cujos passos deve seguir todo homem.

03. Alguns provérbios italianos dizem sobre o poder do amor:

a.    “O amor governa sem a lei”

b.    “O amor governa o seu reino sem a espada”

c.    “O amor é o senhor de todas as artes”

04. Li em determinado lugar uma belíssima história sobre o poder do amor:

 

Um homem contou a história de que ele foi, certa vez, conselheiro em um acampamento de igreja que abrigava meninos pequenos. Um dos meninos que estava no acampamento tinha sido vítima de paralisia cerebral, e os outros meninos se divertiam com ele, imitando os seus gestos descontrolados e, de maneira geral, tornando a vida dele uma miséria. Um dos meninos deveria fazer um breve sermão na última noite do acampamento, e os colegas resolveram que o candidato certo para o trabalho era o menino com paralisia cerebral. Eles se divertiriam enquanto ele lutasse por expressar-se. Portanto, o pobre menino seria a “diversão”, o “espetáculo” daquela noite. Os risos já se tinham espalhado por toda a jovem audiência quando o menino subiu ao púlpito. Ele conseguiu gaguejar o seu sermão bem simples dizendo que tinha três coisas para compartilhar com os outros: 1) A Primeira é que ele sabia que Deus o amava; 2) A Segunda era que ele sabia que Deus amava a todos eles; 3) Portanto, a Terceira coisa, segundo ele assegurou aos outros meninos, era que ele próprio os amava. Toda a audiência prorrompeu em lágrimas e vidas foram transformadas naquela noite. Por quê? É porque o amor estava presente... E nos anos que se passaram, vários dos meninos que tinham estado naquele acampamento confessaram que, pela primeira vez, naquela noite, sentiram a presença de Jesus, e muitos se consagraram ao serviço cristão.

 

05. Jesus, no presente texto bíblico de nossos estudos no Sermão do Monte, apresenta-nos a última de suas seis “ilustrações” para explicar e aclarar o Seu ensino concernente ao significado da Lei de Deus em contraste com a pervertida interpretação feita pelos escribas e fariseus.

06. Relembremos as cinco “ilustrações” anteriores:

a.    Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.  Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno...

b.    Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.  Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela...

c.    Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, que lhe dê carta de desquite.  Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério. 

d.    Ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor.  Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis

e.    Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.  Eu, porém, vos digo que não resistais ao perverso...

07. E nesta última ilustração, que temos diante de nós, Jesus vai mostrar que a Lei de Deus nos ensina a amar, e amar até, diferentemente da interpretação e ensino dos escribas e fariseus, os nossos inimigos.

08. Comecemos por observar a interpretação e o consequente ensinamento dos escribas e fariseus:

 

AMAR AO PRÓXIMO E ABORRECER O INIMIGO.

 

09. Esse era o ensino dos escribas e fariseus. Mas,

a.    de onde eles tiraram essa ideia?

b.    Como eles chegaram a essa interpretação?

c.    Onde, na “Lei” está escrito isso?

10. Em lugar nenhum da “Lei de Deus” / “legislação Mosaica” está escrito isso. Entretanto, como a lei que diz “amarás a teu próximo” vem de Levítico 19.18, e ali há alusão específica aos israelitas (“filhos de teu povo”), as autoridades religiosas acrescentaram a outra metade: “odiarás a teu inimigo”. E eles, em geral, realmente praticavam isto, a ponto de alguns romanos os acusarem de detestar a raça humana (odium generis mundi)[1].

11. Lloyd-Jones chama a atenção para o fato de que os Judeus consideravam os outros povos como meros cães e, por outro lado, os povos gentílicos desprezavam os judeus, havendo, portanto, entre judeus e gentios o que o apóstolo Paulo denominou em Efésios 2.14 de “parede de separação”, que foi “derrubada” por Cristo, a nossa paz – em Cristo ambos os povos somos um só povo; em Cristo todos os que recebemos a Jesus pela fé, independente de que nação sejamos, nos tornamos cidadãos celestiais, concidadãos dos santos e da família de Deus (Efésios 2).

12. Talvez – considera Lloyd-Jones, sem querer tornar mais suave o erro dos escribas e fariseus – eles tenham encontrado encorajamento para tal atitude, pelo menos em parte, em um mau entendimento acerca do porque de algumas ordens e atitudes da parte do próprio Deus, como por exemplo, a ordem de exterminar os cananeus. Como entender isso? E, indo mais além, como conciliar o amor a todos, até aos inimigos, com a existência de uma punição eterna?

13. Não é muito difícil entender quando não fechamos os olhos para um elemento muitas vezes ignorado: o elemento judicial. O amor de Deus não elimina a Sua justiça. Pensando nisto Lloyd-Jones faz o seguinte comentário explicativo:

 

Enquanto estamos neste mundo e nesta vida, Deus, de fato, faz o Seu sol nascer sobre bons e maus, abençoando pessoas que até O odeiam, e enviando chuvas àqueles que O desafiam. Sim, Deus continua fazendo isso. Ao mesmo tempo, porém, Ele os adverte que, a menos que se arrependam, finalmente estarão na perdição eterna. Portanto, pesados todos os fatores, não há nenhuma contradição. Povos como os moabitas, os amorreus e os midianitas haviam rejeitado deliberadamente as realidades divinas; e Deus, na qualidade de Deus e de eterno e justo Juiz, proferiu juízo contra eles. Faz parte da prerrogativa divina agir assim. Porém, a dificuldade que cercava os fariseus e os escribas era que eles não faziam tal distinção. Tomavam esse princípio judicial e o punham em operação em suas atividades comuns, em suas vidas diárias. Consideravam que isso os justificava do ódio que votavam aos seus inimigos, odiando a qualquer pessoa por quem tivessem aversão, ou a qualquer pessoa que de alguma forma os ofendesse. Desse modo, destruíam deliberadamente o princípio básico da lei de Deus, que é esse grande princípio do amor.[2]

 

14. Resumindo, não há em lugar nenhum da Palavra de Deus e em nenhuma atitude de Deus, base para amarmos só o nosso “próximo” (pensando em próximo como “os nossos”) e não aos nossos inimigos, e muito menos para odiar nossos inimigos. A ordem é AMAR! Amar amigos e até inimigos.

15. A interpretação e o consequente ensino dos escribas e fariseus era, no mínimo, equivocado.

16. Observemos agora o ensinamento de Jesus:

 

AMAI OS VOSSOS INIMIGOS

 

17. Amar os inimigos! Obviamente não só os inimigos, de forma que podemos dizer “até” os inimigos. Essa é a interpretação de Jesus, e vem acompanhada de exemplos/ilustrações (bendizer... fazer bem... orar...).

18. Notem que temos aqui uma atitude positiva para com nossos inimigos. Um pouco antes Jesus dissera, sobre nossa atitude para com os perversos (inimigos, portanto), que deveria ser uma atitude de NÃO resistência. Mas aqui Jesus vai além e diz que não apenas não devemos resisti-los como devemos amá-los, e, diante disso podemos pensar no seguinte princípio: nossa maneira de tratar as pessoas não deve depender do que elas são ou do que elas têm feito a nós.

19. Não é assim que Deus age? Deus envia chuva e ordena que o sol brilhe não apenas para as pessoas de bem; ele o faz mesmo para as pessoas más e as iníquas. Deus não abençoa somente os esforços dos agricultores crentes... Deus está tratando, no geral, com todas as pessoas não conforme o que elas são ou conforme agem para com Ele, mas conforme o Seu amor, que é completamente desinteressado. Nas palavras de Loyd-Jones,

 

Esse amor não depende de qualquer coisa que em nós exista, pois se manifesta a despeito de nós. “porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Ora, o que levou Deus a agir desse modo? Teria sido alguma coisa amável, amorável ou digna de ser amada em nós ou no mundo? Teria sido algo que estimulou o eterno coração de amor? Nada disso, sob hipótese nenhuma. Tudo se deve exclusivamente às atitudes do próprio Deus, a despeito de nós. O que impeliu Deus foi o Seu próprio eterno coração amoroso, que não se deixa comover por qualquer motivo fora dele mesmo. Esse amor gera seus próprios movimentos e atividades – é um amor totalmente desinteressado.[3]

 

20. Essa é a forma de amor que devemos manifestar pelas pessoas, um amor desinteressado, um amor independente de quem sejam as pessoas e nem do que elas têm feito por nós ou a nós.

21. Falando de outra forma, as nossas atitudes, como servos de Deus, como novas criaturas, pertencentes a um reino diferente, não devem ser governadas por outras pessoas, pelo que elas fazem/dizem/pensam a nosso respeito. Há uma lei que diz que toda ação desencadeia uma reação correspondente. Essa lei, em muitos casos, não deve estar presente em nossas vidas, porquanto passamos a fazer parte de um reino cujas leis são diferentes das leis do reino dos homens.

22. Assim é que, exemplifica Jesus,

a.    Se alguém o maldiz, bendiga, isto é, diante de palavras malditas, reaja com palavras benditas; diante de palavras amargas, reaja com palavras doces; diante de palavras duras e grosseiras reaja com palavras gentis.

b.    Se alguém lhe odeia, faça-lhe o bem, isto é, diante de atos malévolos reaja com atos benévolos; quando alguém se lhe apresentar extremamente desprezador e cruel, não lhe retribua da mesma forma. A regra para o crente é “ações benévolas em favor até dos cruéis”.

c.    Se alguém lhe maltrata e persegue, ore por ele. Peça a Deus misericórdia para essas pessoas; peça a Deus para salvar as almas dessas pessoas. Afinal, foi por isso que Jesus veio a esse mundo, para buscar e salvar os pecadores.

23. Se assim não fizermos, que galardão teremos?

24. Se assim não fizermos, como poderemos dizer que somos filhos de Deus, semelhantes a eles?

 

FONTES:

 

CHAMPLIN, R. N. – O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – volume 1

 

Lloyd-Jones, Martin – Estudos no Sermão do Monte – Editora Fiel



[1] CHAMPLIN, R. N. – O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – volume 1

[2] Lloyd-Jones, Martin – Estudos no Sermão do Monte – Editora Fiel

[3] Ibid.

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